A Ceia

O meu desejo tinha tanto de profano como de absurdo. Naquela noite de inverno, o meu Dom convidara-me para um jantar numa festa privada, a ter lugar 

num palácio da alta burguesia.  As instruções dele tinham sido claras: Deveria de estar de olhos vendados e com indumentaria a condizer.

Apresentar-me-ia ao meu Dom com um longo vestido de gala vitoriano que tinha guardado para uma ocasião especial que chegara, por fim.

Tratava-se de um vestido preto de colo aberto, que me evidenciava a voluptia do peito.  O negro predominante contrastava com as rendas bordadas de cor bordô. Por baixo trazia  uma  lingerie bastante ousada como o meu Dom aprecia.

Quando ele chegou, recebi-o de olhos vendados, ,mas o meu senhor apenas ordenou que lhe oferecesse os pulsos para de seguida os amarrar. 

A viagem parecera-me longa, talvez porque estaria a sofrer de ansiedade.

Só me apercebi que tínhamos chegado ao local quando a minha emoção fora rasgada por  vozes e murmúrios de diversos homens e mulheres. 

Entre os vários burburinhos, notei  que falavam de mim. Senti-me examinada sem nada conseguir enxergar, pois os meus sentidos lutavam apenas para compreender para onde estava a ser conduzida. 

No interior, convidaram-nos a sentar à mesa. Sentia-me embaraçada, pois o meu Dom manteve-me de olhos vendados e eu continuava sem conseguir enxergar a ponta de um alfinete. Ouvia vozes, inalava alguns odores de fragrâncias, misturadas com comida e fumo de cigarros. 

Mantinha-me na incógnita, sem saber que acontecimentos me esperavam –  a minha ansiedade aumentava a cada minuto que passava.

De novo fui acometida pelo sentimento de perenidade, pois o jantar demorava a ser servido. Bruscamente sinto as mãos robustas do meu Dom a prenderem-me e escutei o tecido do meu estimado vestido a desfiar-se em mim. Em menos de poucos minutos, o traje fora severamente removido do meu corpo, como uma casca de um fruto. Fiquei completamente nua e desprotegida, mas o que mais me incomodou foi o sentimento que estava exposta para toda a gente, se conseguir ver o rosto de ninguém. Pensei no meu vestido que estaria um farrapo a ser espezinhado por aquelas pessoas. 

As vozes e risinhos indecorosos  aumentaram de volume. 

Mãos e mais mãos a calcorreavam-me o corpo, como serpentes inquietas e nervosas. Fui prostrada em cima da mesa e as mãos continuaram a transitar sobre o meu corpo.

No meio de todas, continuava a reconhecer o toque único do meu Dom, que me forçou a deitar e me aprisionou, atando-me com cordas em redor dos meus braços e pernas periclitantes. As vozes e risinhos indecorosos  aumentaram de volume, quase me ensurdecendo. 

Tudo em mim se enrijeceu. Sentia os bicos dos meus mamilos como pedras, tal não eram os calafrios que se instalavam no meu corpo.

Inesperadamente o silencio tomou conta do sala como se toda a gente tivesse desaparecido.

Apenas escutava a minha respiração ofegante, quando sinto algo quente a gotejar sobre os meus seios. Eram pingos de cera, que caiam demoradamente como salpicos de lava quente. Doíam, ardiam, queimavam, e eu sentia o meu corpo estremecer como um peixe preso num anzol.

O  calor e fora agora substituído  por uma estranha humidade que tomou  conta de mim. A duvida instalou-se – Dor ou prazer??

Gemidos de deleite brotaram junto aos meus ouvidos. Senti um colossal par de mamas a assentar sobre as minhas, que continuavam tesas. 

Pelo ofegar dela, era uma mulher jovem. O seu corpo era leve e parecia gentil. A boca dela percorreu o meu corpo com beijos suaves como as pétalas de uma rosa.

A Língua dela invadiu a minha boca, salvando-me da secura que estava a sentir de momento. Os beijos continuaram, agora espraiavam-se pelo meu pescoço e foram descendo, descendo, onde se demoraram no meu ventre e umbigo.

Abruptamente sou invadida por  uma mão grossa e máscula que me perfura sem clemência . Tenho vontade vomitar, mas ainda aguento.

Sinto um vai- vem perturbante que me invade de prazer. Gemo e grito tanto que quase me sinto a desfalecer. As vozes e risinhos indecorosos  tinham regressado.

Estou angustiada e exausta com tanta de dor e sofrimento. Os meus mamilos estão a ser apertados e  ferroados com instrumentos pontiagudos.

 “são garfos”, pensei. Senti o sangue a esvair-se das mamas. Estava tudo descontrolado.  Puxam-me os cabelos como se eu fosse uma boneca de trapo. Cospem-me na cara de modo desdenhoso, fazendo-me sentir uma puta sem dono. 

Oh, mas o mais lúgubre deste inferno todo é que estou quase a atingir um orgasmo aterrador… mas aquele punho que me proporcionava um fisting medieval, abandonara-me e desaparecera subitamente.

“Que se segue agora?” – cismei. 

De novo um silêncio tomou conta da sala. Agora era uma quietude assustadora.

Sinto o frio do gume de uma faca a penetrar-me o corpo. A dor era insuportável, e um pedaço de mim fora rasgado do meu corpo.  Outro golpe, agora mais fundo, na zona lombar. Estava a ser cortada em pequenos pedaços de carne que era servida a todos os convidados que se deliciavam com aquela degustação canibal. 

“não quero morrer” – Supliquei com a minha voz embargada pela saliva que me escorria da boca dormente.

– “meu Dom…salva me”

Entre aquelas vozes e risinhos indecorosos,  fui forçada a ingerir nacos de carne.. que eram meus!

 

Oh, sentia a minha alma a desfalecer. Perdi os sentidos de tanto chorar e gritar, clamando por socorro.

Alimentei-me de mim, Senti o azedo sabor da minha carne crua.

” E agora, quem sou eu? – Indaguei num pranto incontrolável.

– Tu es aquilo que provo todos os dias.- declarou o meu Dom.  

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